O fim do mundo

a André Breton

Os olhos cercados como as ruínas dos castelos
Um manto de valados entre ela e seu último olhar
Num delicioso dia de primavera
Quando as flores camuflam a terra
Aquele abandono de tudo
E os desejos dos outros à sua vontade
Sem que ela pense
A sua vã vida respira senão a vida
O seu peito não tem sombra e a face desconhece
Que o cabelo ondulado o embala obstinadamente.

Palavras que palavras preto ou Cévennes
Bambu respira ou coaxa
Falar é servir-se dos seus pés para caminhar
Das suas mãos para roçar os panos como um moribundo
Os olhos abertos não tem fechadura
Sem dificuldade temos na boca e nas orelhas
Uma marca de sangue não é um sol pesado
Nem a palidez uma noite sem sono que acaba.

A liberdade é tão incompreensível como a visita do médico
De que médico uma vela no deserto
No fundo do dia o ténue foco duma vela
A eternidade começou e acabará na cama
Mas para quem falas tu pois tu não sabes
Porque tu não queres saber
Pois não mais sabes
Por respeito
O que falar quer dizer.

Este poema provém do tema intitulado “ A vida imediata “

Tradução: Fernando Oliveira, do original – La fin du monde – de Paul Eluard

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